Carrilhões da Basílica
Carrilhões da Basílica

Por quem os sinos dobram?

     Como etapa de todo o processo de reforma de nossa excelsa Basílica desde dezembro, estamos trabalhando nos sinos. Foram trocadas as vigias de madeira, que estavam comprometidas, por vigas de ferro. Já há muito tempo, acerca de 50 anos, que o funcionamento dos mesmos é automático, ligando apenas uma chave, tipo disjuntor. Este sistema de funcionamento foi atualizado com a instalação de cinco motores mais modernos e com manutenção mais simples. Estamos em fase de testes, mas já avaliamos como muito louvável o investimento ali realizado. Faz parte do projeto voltar a funcionar o relógio. 

     Mas, vejamos um pouco da história do campanário da Basílica. A palavra sino vem do latim “signum” e sua origem é associada à história do cobre e do bronze. O cristianismo, especialmente o católico, adotou o sino como um órgão vital na arquitetura das igrejas, havendo registros antigos dessa utilização há cerca de 1.600 anos, em Campânia, na Diocese de Nápoles, na Itália. Daí se explica a palavra campana (campainha) como sinônimo de sino, e campanário como o lugar da igreja onde ele é instalado. Fundir sinos é uma ciência e uma arte que perpassam séculos na busca pelo som afinado do bronze. As etapas de fabricação são praticamente as mesmas desde o século 7º antes da Era Comum. Trata-se de um processo que se reproduz há 1.400 anos. 

     Como em qualquer fundição, usa modelos e caixas de fundição preenchidas com terra ou cavadas no chão, onde o bronze fundido é derramado. O artesão fundidor (sineiro) é responsável por determinar as dimensões,  o formato,  a sonoridade e demais características do sino, somando um conjunto de elementos que vai incidir sobre a sua afinação (Fonte: www.paulinas.org.br “Os sinos falam” por Rosangela Barbosa e Marcos Antônio de Sá). 

Pedimos ao Sr. José Asdrúbal, fiel proficiente colaborador de nosso Jornal, que nos contasse o que ele sabe sobre os sinos da Basílica. Vejamos seus dizeres!

     Não vou aqui focalizar a história da Basílica, mas, sim, a Basílica na história da cidade - marco indelével de religiosidade e também de turismo convidativo. Aponto o foco deste comentário para a figura proeminente do Pároco atual, o Revmo. Pe. Francisco Carlos Pereira, o trigésimo a ocupar o cargo na centenária Igreja Católica da cidade, pois coube a ele a árdua tarefa de reforma, “in totum”, deste templo sagrado. Tudo em evidência, agora os sinos foram revitalizados no seu contexto, pois o carrilhão da Basílica é o único da cidade e até da região, com cinco sinos de bronze, especialmente elaborado para a Basílica.

     E como tais sinos chegaram ao campanário? Conto com testemunha ocular e auditiva do evento, concluído pelo Pároco da época, Monsenhor Geraldo Magela do Amaral Teixeira, o 27º da Basílica, no início do século passado. Após o esforço do então bispo diocesano, Dom Hugo Bressane de Araújo, a Matriz foi elevada à dignidade de Basílica Menor, a única no interior do Brasil, com o excelso título de Basílica Nossa Senhora da Saúde, sendo somente esta dedicada à padroeira em todo o continente americano. A Sagração se deu no dia 30 de outubro de 1954, a cargo do então Cardeal do Rio de Janeiro, capital Federal na época, Dom Jaime de Barros Câmara. Presente o Governador do Estado de Minas Gerais, Dr. Juscelino Kubiteschek de Oliveira, que veio especialmente para este fim, com seu séquito governamental. De manhã, missa solene presidida por Dom Hugo Bressane e, às 19h, a Matriz recebeu a procissão de entrada, vinda da Casa Paroquial, ao lado, com passarela vermelha até a porta principal, tudo debaixo do Pálio do Santíssimo. Como cerimônia, a sagração oficial, com a bênção em todos os quadrantes do templo, e, ao final, o importante Te Deum Laudamus, com coro e orquestra especialmente preparados. Ao final da cerimônia, usou a palavra o Governador Juscelino Kubiteschek que, emocionado, enalteceu a suntuosidade do templo e prometeu que os sinos da nova Basílica seria uma oferta do Governo do Estado para a cidade que ele tanto admirava. Quatro meses depois, os sinos chegaram a Poços e o que estava na torre, foi transferido para o Santuário Nossa Senhora de Fátima, dos Frades Franciscanos, onde se encontra até os dias de hoje.

     Os cinco sinos da Basílica, vindos da fundição Belline e Cia - Porto Alegre - RS, têm tamanhos e sonoridades diferentes e cada um traz gravado a finalidade do seu som e demais inscrições e homenagens. Vejamos: o primeiro, e o maior dentre os cinco, é “Louvores a Deus”, traz a inscrição “A Sua Santidade o Papa Pio XII, Gloriosamente Reinante. Homenagem de amor filial e submissão absolutos”. O segundo, “Afasto a tempestade”, com a inscrição “A S. Excia. Revma. Sr. Dom Antônio Augusto de Assis, Fundador do Bispado de Guaxupé, tributo de imperecível agradecimento”. O terceiro, “Congrego o Clero”, com a inscrição “A S. Excia. Revma, Sr. Dom João Inácio Dalmonte, 4º e atual bispo diocesano. Pleito de estima e reconhecimento”. O quarto, “Choro dos Mortos”, com a dedicação “A S. Excia. Revma. Sr. Dom Hugo Bressane de Araújo, 3º Bispo Diocesano de Guaxupé. Homenagem de gratidão e respeito”. E o quinto, “Convoco o Clero”, “A S. Excia. Revma. Sr. Dom Ranulfo da Silva Farias, 2º Bispo Diocesano de Guaxupé. Veneração e o reconhecimento de seus ex-diocesanos”. Todos fazem menção ao 36º Congresso Eucarístico Internacional, realizado no Rio de Janeiro, de 17 a 24 de julho de 1955.

     Que os sinos, agora em alto e bom som, continuem a ecoar em nossos corações elevados sentimentos de fé, amor a Deus e ao próximo, sendo todos promotores da paz e espalhando justiça, dignidade e saúde por todos nós. 

José Asdrúbal do Amaral
Advogado


 
 
 
 

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